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Uso de máscara não afeta respiração nem resposta cardiovascular durante o exercício

Com o aumento de casos de Covid-19 – impulsionado, principalmente, pela variante ômicron –, algumas cidades brasileiras, como Brasília (DF) e Sete Lagoas (MG), anunciaram, esta semana, a volta da obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes abertos. A decisão, que deve ser seguida por outros municípios nos próximos dias, tem impacto direto na vida de quem pratica exercício físico ao ar livre.

A boa notícia é que, de acordo com um novo estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o uso de máscara de tecido não interfere significativamente nos padrões de respiração e fisiologia cardiovascular em exercício moderado a vigoroso.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores submeteram 35 pessoas saudáveis – 17 homens e 18 mulheres – a testes ergoespirométricos em esteira. O objetivo era avaliar as respostas cardiopulmonares, por meio da troca de gases expirados e inspirados durante o exercício, em diferentes intensidades de esforço.

Os voluntários, primeiro, correram com máscara de tecido de três camadas. Depois, em outra sessão, se exercitaram sem o acessório.

Máscara causa alterações mínimas em exercício exaustivo

Nos testes, a equipe da FMUSP analisou variáveis fisiológicas como o consumo de oxigênio e a capacidade respiratória. Além disso, foram avaliadas medidas de funcionamento cardiovascular, a saturação de oxigênio e a acidose no sangue.

Em entrevista à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o pesquisador e professor da FMUSP Bruno Gualano conta que, entre os voluntários, o uso de máscara durante o exercício provocou “perturbações muito pequenas”. Não houve alteração marcante de fatores fisiológicos, sobretudo, nas intensidades abaixo do esforço máximo, que sabidamente fazem bem para a saúde.

“O estudo mostra que os mitos de que o uso de máscara durante o exercício físico seria prejudicial, afetando, por exemplo, a saturação de oxigênio do sujeito, não se sustentam. O uso da proteção não alterou significativamente o funcionamento corporal durante a prática de exercício moderado a pesado”, afirma Gualano.

Já em exercício de alta intensidade, o uso de máscara causou alterações respiratórias mínimas. No entanto, explica o pesquisador, o organismo dos voluntários conseguiu lidar bem com essas mudanças, por meio de respostas fisiológicas compensatórias.

“A saturação de oxigênio, a frequência cardíaca, a percepção do esforço, os níveis de lactato [medida indicativa do equilíbrio ácido-base no organismo], a pressão arterial, tudo isso está dentro do esperado, mesmo com uso da máscara e em intensidades criticas”, detalha Gualano, acrescentando que os resultados foram semelhantes para homens e mulheres.

Estudo com atletas não mostrou queda de desempenho

Os resultados do estudo foram publicados na plataforma medRxiv, ainda sem a revisão de pares. Esse é o segundo trabalho da equipe da FMUSP sobre o uso de máscara durante o exercício. O primeiro, feito em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e divulgado aqui no blog do Instituto HZM, avaliou o impacto do acessório em atletas de alto nível, às vésperas da Olimpíada de Tóquio.

Também naquele estudo, os pesquisadores observaram que a máscara não prejudicava o rendimento.

“Era apenas a percepção de esforço que aumentava: os atletas reclamavam do incômodo provocado pela máscara, mas o desempenho não se alterava”, lembra Gualano.

Embora atletas de alto rendimento não costumem apresentar quadros graves de Covid-19, o risco não é zero, ressalta o professor da FMUSP. Por isso, o uso de máscara deve ser avaliado, inclusive, nos treinos, para que uma eventual infecção não acarrete prejuízos esportivos, econômicos e organizacionais.

“Nos Jogos Olímpicos, vimos casos de atletas que perderam a competição por terem se infectado. Com a nova onda na Europa e nos Estados Unidos, os casos no esporte têm crescido substancialmente, e diversas ligas correm o risco de serem paralisadas”, observa Gualano.

Agora, a equipe de pesquisadores estuda o uso de máscara durante o exercício físico com grupos clínicos e com crianças saudáveis e obesas.

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