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Consumo de álcool e maconha entre atletas universitários preocupa especialistas

Responsabilidades acadêmicas e esportivas e circunstâncias sociais, como festas e comemorações ao final de torneios, podem influenciar o uso de álcool, maconha e outras substâncias lícitas e ilícitas entre atletas universitários. O consumo estaria ligado à tentativa de melhorar a socialização e o desempenho atlético, bem como aliviar a tensão.

As conclusões são de pesquisadores das faculdades de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Fundação ABC, em estudo publicado no periódico Brazilian Journal of Psychiatry. Os cientistas analisaram dados epidemiológicos de 12,7 mil estudantes em 100 instituições de ensino superior de todo o país.

Entre os atletas competitivos, 67,6% relataram fazer uso problemático de álcool; 14% disseram consumir tabaco; 10,7%, maconha; e 4,3%, outras drogas. Números que não diferiram tanto dos atletas recreacionais: 52,1%, 18,4%, 8,4% e 7,4%, respectivamente.

“A situação chega ser paradoxal, porque sempre se supôs que, para praticar esporte, a pessoa teria que estar bem fisicamente e ser saudável, não havendo espaço para o uso de álcool e outras drogas. Entretanto, o que se observou na pesquisa foi o contrário: há o consumo de álcool e de drogas [ilícitas] entre os universitários, entre atletas amadores e talvez até entre alguns profissionais”, diz, ao Jornal da USP, o psiquiatra e esportista Arthur Guerra.

Colega de Dr. Guerra no estudo, o também psiquiatra João Maurício Castaldelli-Maia lamenta o alto índice de consumo problemático de álcool. Entre os universitários, esse conceito, de acordo com o médico, está relacionado ao beber pesado episódico (BPE) –quando, num período de duas horas em evento social, homens consomem cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas, e mulheres, quatro ou mais. Uma dose equivale a uma lata de cerveja (350 ml), uma taça de vinho (120-150 ml) ou de 30 a 45 ml de bebida destilada.

“Dois terços da amostra é um número extremamente preocupante, porque o consumo de álcool no meio universitário costuma estar associado a outros problemas graves, como envolvimento com brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido e ‘blackout alcoólico’, que é a perda temporária da memória quando se consome bebida (…) em excesso”, alerta.

Circunstâncias sociais

Os pesquisadores constataram que os atletas competitivos apresentaram menores níveis de estresse psicológico e sintomas depressivos do que os recreacionais e os estudantes que não praticavam esporte. Esse achado, avalia o Dr. Castaldelli-Maia, sugere que o uso problemático de álcool e maconha não esteja relacionado a questões de saúde mental, mas sim a circunstâncias sociais.

“No geral, o consumo de álcool entre os universitários acontece de forma social. Mas, para aqueles que levam a frustração de não ter conseguido o pódio, o consumo acaba sendo maior”, observa Dr. Guerra.

Para o Dr. Castaldelli-Maia, um dos motivos para a preferência dos jovens atletas pelo álcool pode ser o metabolismo rápido da droga. Após 24 horas de ingestão, ele explica, dificilmente a bebida será detectada nos testes antidoping.

No estudo, o esporte que apresentou as maiores taxas de consumo de álcool foi o futebol.

Consequências esportivas

De acordo com o Jornal da USP, ingerir grandes quantidades de álcool em um curto espaço de tempo pode prejudicar as habilidades psicomotoras e comprometer órgãos como fígado, pâncreas, coração e estômago. Já as consequências do uso problemático de maconha no desempenho atlético são menos claras, mas sabe-se que pode afetar negativamente o tempo de reação, a coordenação e a motivação, além de aumentar a ansiedade.

O consumo de cannabis entre os atletas universitários que participaram do estudo pode ser explicado, na opinião do Dr. Castaldelli-Maia, pela glamorização da droga nos últimos anos e pelo perfil sociodemográfico do público, formado, principalmente, por homens com maior nível socioeconômico, sem religião e solteiros.

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