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Professores do Instituto HZM comentam novas diretrizes de atividade física da OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, esta semana, novas diretrizes globais sobre atividade física e comportamento sedentário. Com o tema “Every move counts” (Todo movimento conta), as recomendações foram apresentadas em um evento on-line, no dia 26 de novembro, e publicadas no periódico British Journal of Sports Medicine.
No documento, a OMS recomenda que adultos (18 a 64 anos) pratiquem de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica moderada a vigorosa por semana – até uma hora por cinco dias ou 40 minutos por sete dias – ou de 75 a 150 minutos de atividade de alta intensidade.
O tempo máximo, nos dois casos, é o dobro do indicado nas diretrizes anteriores, de 2010. Há uma década, a organização orientava a população a praticar pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de intensa.
A OMS destaca que atividade física regular é fundamental para prevenir e ajudar a controlar doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer. Também contribui para reduzir o declínio cognitivo e os sintomas de depressão e ansiedade, além de melhorar a memória e estimular a saúde do cérebro.

“Estimativas globais mais recentes mostram que um em cada quatro adultos e 81% dos adolescentes não atendem às recomendações para exercícios aeróbicos, conforme descrito nas recomendações globais de 2010. Há uma necessidade de aumentar a prioridade e direcionar investimentos para promover a atividade física”, diz um trecho das novas diretrizes, de acordo com o portal G1.

Pandemia de sedentarismo

Ao comentar o tema do documento, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ressaltou que agora, que “administramos as restrições da pandemia de Covid-19”, as pessoas devem se movimentar todos os dias, “com segurança e criatividade”.
A organização estima que a inatividade física gere, em todo o mundo, custos da ordem de US$ 54 bilhões em assistência médica direta e US$ 14 bilhões em perda de produtividade. Ainda de acordo com a OMS, até 5 milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população global fosse mais ativa.

“Ser fisicamente ativo é fundamental para a saúde e o bem-estar – pode ajudar a adicionar anos à vida e vida aos anos”, afirmou Ghebreyesus, no lançamento das diretrizes, segundo o jornal O Globo.

O diretor de Promoção da Saúde da OMS, Ruediger Krech, por sua vez, alertou que o sedentarismo pode criar “uma nova pandemia de problemas de saúde”.
“Se você precisa passar muito tempo sentado, seja no trabalho ou na escola, deve fazer mais atividade física, para combater os efeitos prejudiciais do comportamento sedentário ”, aconselhou.
Krech destacou que qualquer tipo de atividade física e de qualquer duração pode trazer benefícios para a saúde e o bem-estar, mas lembrou que “quanto mais, melhor”.

“Toda atividade física é benéfica e pode ser realizada como parte do trabalho, esporte e lazer ou transporte, mas também através da dança, brincadeira e tarefas domésticas cotidianas, como jardinagem e limpeza”, frisa um texto sobre as novas diretrizes publicado no site ONU News, da Organização das Nações Unidas.

Recomendações por grupos

Para a produção do documento, foi realizada uma pesquisa que envolveu mais de 44 mil pessoas de quatro países e 40 cientistas de todo o mundo. Os pesquisadores constataram que o alto tempo de sedentarismo – definido, no estudo, como 10 horas ou mais por dia – está associado a “um risco significativamente elevado de morte, particularmente entre pessoas fisicamente inativas”.
De acordo com os autores das diretrizes, um período de 30 a 40 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia “enfraquece substancialmente esse risco, reduzindo-o a níveis associados a quantidades muito baixas de tempo sedentário”.
Embora ainda não haja evidências suficientes para recomendar limites de comportamento sedentário, os pesquisadores afirmam que as pessoas devem tentar limitar o tempo inativo diário e substituí-lo por atividades físicas.
As recomendações da OMS abrangem pessoas de todas as idades e habilidades. Crianças e adolescentes (5 a 17 anos), por exemplo, são estimulados a fazer, pelo menos, 60 minutos por dia de atividade física com intensidade moderada a vigorosa, principalmente aeróbica. Atividades aeróbicas intensas, assim como as que fortalecem músculos e ossos, devem ser incorporadas pelo menos três dias por semana.
Já os idosos (65 anos ou mais) devem seguir as mesmas orientações para os adultos – de 150 a 300 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada, no mínimo, ou de 75 a 150 minutos de atividade vigorosa. São aconselhados, ainda, a incluir na rotina práticas que enfatizem o equilíbrio, a coordenação e o fortalecimento muscular, a fim de prevenir quedas e melhorar a saúde.
Mulheres grávidas e puérperas, por sua vez, devem fazer, pelo menos, 150 minutos de atividade física aeróbica de intensidade moderada durante a semana. Também são recomendadas práticas que envolvam fortalecimento muscular e alongamento suave. Já exercícios com risco de queda devem ser evitados.
Pessoas que vivem com condições crônicas ou deficiências são outros grupos que, segundo a OMS, devem se manter ativos fisicamente.
A Organização incentiva os países a adotarem as diretrizes e, a partir delas, desenvolverem políticas nacionais de saúde, em apoio ao plano de ação global sobre atividade física lançado em 2018. Um dos objetivos daquele documento é reduzir o sedentarismo em 15% até 2030.

A opinião de professores do Instituto HZM

O blog do Instituto HZM convidou professores das pós-graduações em Medicina do Exercício e do Esporte e em Nutrologia Esportiva da instituição para comentar as novas diretrizes sobre atividade física e comportamento sedentário da OMS. Confira, a seguir, a opinião dos médicos do esporte Carlos Hossri, Luiz Riani e Carla Tavares.

Dr. Carlos Hossri

Médico do esporte, cardiologista e coordenador acadêmico da pós-graduação em Medicina do Exercício e do Esporte do Instituto HZM
Apenas uma em quatro pessoas faz atividade física na quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde. O sedentarismo, hoje, é a grande epidemiologia.
Com a nova orientação de 300 minutos por semana, a população vai conseguir extrair mais benefícios do exercício: saúde cardiovascular, proteção neuromuscular, melhora cognitiva, melhora da proteção óssea e menores efeitos deletérios do sedentarismo.
Mais de 5 milhões de vidas mundiais serão poupadas por ano. Portanto, 300 minutos deve ser a meta, para que a gente possa viver mais e melhor.

Dr. Luiz Riani

Médico do esporte e ergometrista
A ciência tem demonstrado que aumentar o volume de exercício traz mais vantagens para o indivíduo. Desde 2010, as diretrizes para idosos e pacientes oncológicos recomendam 300 minutos semanais de atividade física. Foi importante trazer esse conhecimento acumulado para uma diretriz global da OMS.
Entretanto, é importante observar que a recomendação compreende uma faixa de 150 a 300 minutos, em que há perda de controle e intensidade, por um lado, e ganho de quantidade, por outro. Com isso, a Organização mostra que o conhecimento está aberto a novas interpretações, ao mesmo tempo em que cria um “jogo” entre ciência e comportamento, no qual os dois cedem.
Há uma frase muito famosa que diz: “exercício é remédio”. Eu prefiro: “exercício é prazer”. Precisamos sair do paradigma da imposição médica e deixar o processo mais flexível e agradável para o paciente. Eu vi essa tentativa de mudança na apresentação da diretriz pela OMS, o que me surpreendeu positivamente. Acredito que seja a maneira para romper a casca do sedentarismo e diminuir o gap entre o que preconiza a ciência e o que acontece no mundo.

Dra. Carla Tavares

Médica do esporte e cardiologista
O novo guideline da OMS enfatiza, de forma bastante apropriada, que o combate ao sedentarismo e o comportamento ativo ainda são a melhor alternativa para promoção de saúde e prevenção de várias doenças.
Sabemos que qualquer atividade física vale a pena frente ao comportamento sedentário, mas entendo que a OMS aproveitou a oportunidade para incentivar o aumento de volume de exercício.
As últimas diretrizes já recomendavam o mínimo de 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade intensa por semana. A nova diretriz estende a recomendação, colocando, além desse mínimo, um “máximo” ideal, que seria o dobro de volume (300 minutos de atividades moderadas e 150 minutos de atividades intensas).
Na minha opinião, a ideia é disseminar essa recomendação como forma de incentivo para que mais pessoas saiam do sedentarismo. E, para quem já pratica exercícios, ter em mente que pode otimizar os benefícios com volumes e intensidades adequados.

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