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Monitorar o ciclo menstrual melhora a performance esportiva feminina

Para vencer a Copa do Mundo de futebol feminino, em julho passado, na França, a seleção dos Estados Unidos precisou de mais do que jogadoras habilidosas, uma boa treinadora e uma intensa rotina de treinamentos. A equipe comandada pela britânica Jill Ellis também teve a seu favor o monitoramento dos ciclos menstruais das atletas, adaptando a eles a carga de treino, a dieta e o controle de sintomas.
Em entrevista a uma emissora de TV, Dawn Scott, integrante da comissão técnica americana, admitiu que a medida colaborou para o título. Essa foi a segunda conquista consecutiva e a quarta ao todo dos Estados Unidos em oito edições da competição.
Não é de hoje que se debate a influência dos sintomas da menstruação na performance esportiva feminina. Em 2016, pesquisas apontaram que mais da metade das atletas de elite diziam que flutuações hormonais durante o ciclo menstrual atrapalhavam seu desempenho.
Recentemente, dois casos ganharam destaque na imprensa. Enquanto a tenista britânica Heather Watson atribuiu a efeitos como tontura e náuseas uma derrota no Aberto da Austrália de 2015, a corredora olímpica Eilish McColgan afirmou que o mal-estar contribuiu para que ela lesionasse o tendão, ano passado.
Nos dois últimos Jogos Olímpicos, em Londres e no Rio de Janeiro, atletas brasileiras contaram com uma assistência ginecológica que as ajudava a controlar os sintomas da tensão pré-menstrual e da menstruação, como cólicas e sangramento excessivo.

“Há tempos que o ciclo menstrual é visto como uma barreira ao treino e à performance. Mas se você usar isso a seu favor, há potencial para que as flutuações hormonais sirvam para treinamentos mais específicos e precisos, em vez de simplesmente deixar de treinar”, acredita o médico Richard Burden, fisiologista do Instituto Inglês de Esporte (EIS, na sigla em inglês), em entrevista à BBC (via G1).

De acordo com o site britânico, as flutuações causadas pelo ciclo hormonal podem afetar diversas funções fisiológicas e psicológicas das atletas, desde a forma de se mover e se adaptar ao treinamento até o modo de pensar e sentir. Assim, o entendimento desses processos em cada mulher ajuda os técnicos a otimizar as cargas de treino.

Tecnologia para técnicos e atletas

Jamie Main, treinador de uma equipe de natação da Inglaterra, usa uma plataforma que lhe permite monitorar a saúde de suas atletas, com o consentimento delas, e planejar o treinamento. Segundo o técnico, o FitrCoach, desenvolvido pela irlandesa Orreco, permitiu quebrar tabus sobre menstruação e adaptar sessões de alta intensidade que não se encaixassem no ciclo das mulheres com quem trabalha.

“Há momentos em um ciclo com chances maiores de lesões. Ter conhecimento disso nos ajudou a intensificar o trabalho de recuperação e de aquecimento”, relata Main à BBC.

Já o FitrWoman, também da Orreco, monitora a menstruação das atletas e seus sintomas, bem como a atividade desempenhada. O aplicativo reúne informações e dicas sobre nutrição e fisiologia durante cada fase do ciclo, além de explicações sobre eventuais mudanças no corpo. Por exemplo, se em um determinado momento os níveis de açúcar no sangue estiverem instáveis, o programa recomendará a ingestão de proteínas e carboidratos complexos.
A nadadora Mia Slevin e a corredora de média e longa distâncias Emelia Górecka são duas usuárias do FitrWoman na Grã Bretanha. Enquanto a primeira relata ganhos na alimentação com o uso do programa, a segunda comemora melhorias no sono.

“O aplicativo me dá dicas e informações sobre as quatro fases do meu ciclo. Por exemplo, meu sono se torna muito tumultuado na quarta fase, então é algo a que eu tenho que prestar atenção”, relata Górecka, que agora, nessa época, come alimentos ricos em melatonina, como banana, antes de ir dormir.

Outros apps

A reportagem da BBC cita outros dois aplicativos úteis para mulheres esportistas. Com o FitBit, desenvolvido pela empresa homônima, e o Clue Period Tracker, da BioWink, também é possível monitorar o ciclo menstrual e saber, por exemplo, o nível de energia para a prática de exercícios.
Ainda de acordo com a matéria, embora sejam necessárias mais pesquisas sobre o tema, já é possível notar o impacto positivo de programas como esses em mulheres que se exercitam.
Para Richard Burden, a tecnologia terá um grande papel na customização do treinamento e para melhorar a performance em “0,5% a 1%”.

“É a diferença entre conseguir ou não a medalha de ouro”, destaca.

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