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Máscara causa desconforto, mas não prejudica desempenho de atletas

A pandemia fará a Olimpíada de Tóquio 2020 entrar para a história por motivos alheios aos resultados dos atletas nas arenas esportivas. A primeira peculiaridade, naturalmente, é a data – os Jogos foram adiados em um ano, só começando em julho de 2021. Outra é a ausência de público nas competições realizadas na capital japonesa e nas cidades próximas; somente algumas sedes, mais afastadas, podem receber até 10 mil torcedores, todos residentes no Japão.
Por fim, há atletas que, mesmo sem obrigatoriedade, usam máscara durante as partidas, para evitar a contaminação pelo Sars-CoV-2. A delegação brasileira tem dois exemplos: os jogadores de vôlei Lucão, da equipe masculina, e Macris, da feminina.
Mas será que o acessório pode comprometer o desempenho esportivo? Ao menos para atletas velocistas e saltadores, não. É o que mostra estudo feito por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Os cientistas constataram que praticamente não houve diferença de performance na comparação entre dois treinamentos – um com máscara e outro sem – de sprint (corrida curta e rápida) e salto. No treino com máscara, o equipamento facial usado pelos atletas era de tecido e tinha três camadas, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o público em geral.
Os resultados estão em artigo pré-print (em revisão por pares) no repositório da revista SportRxiv.

“Os achados da pesquisa trazem mais tranquilidade para atletas e treinadores quanto ao uso da máscara durante os treinamentos de sprints e saltos com pausa longa, dado que a performance não será afetada”, diz o pesquisador da FMUSP Bryan Saunders, orientador do estudo, ao Jornal da USP.

Maior percepção de esforço

Embora não tenham perdido em desempenho, os participantes informaram desconforto com a máscara. Relatos “individuais e espontâneos” incluíram sensação de sufocamento e dificuldade em respirar. A percepção de prazer também foi prejudicada.

“Em média, os participantes perceberam o treino como bom e razoavelmente bom quando performaram sem máscara. Quando fizeram uso da máscara, o treino foi percebido como ruim e razoavelmente ruim”, conta, ao Jornal da USP, o pesquisador da UFRN Matheus Dantas.

A máscara também aumentou a percepção de esforço dos atletas, sobretudo a partir do terceiro sprint. Os treinos de corrida tinham cinco sprints de 30 metros cada, com intervalo de quatro minutos entre eles.
“No final da sessão, o uso de máscara promoveu uma percepção de esforço aproximadamente 45% maior do que o treino sem máscara”, revela Dantas, que acompanhou os atletas ao lado do colega de UFRN Rui Barboza Neto.
Apesar dos relatos dos voluntários, os pesquisadores consideram que as vantagens da proteção facial superam as desvantagens.

“Diante da pandemia ainda sem controle, o benefício de se proteger contra o Sars-CoV-2 é maior do que qualquer desconforto causado pelo uso da máscara”, afirma Saunders.

Novo estudo sem atletas

Participaram do estudo 10 atletas de alto rendimento (sete homens e três mulheres), com idade média de 23 anos. Seis eram velocistas, três, saltadores em distância, e um, corredor de 110 metros com barreiras.
Ao blog do Instituto HZM, Matheus Dantas reconhece que o tamanho amostral da pesquisa é pequeno, mas ressalta que, no momento da investigação, não havia muitos atletas de alto nível disponíveis.

“Poderíamos abrir para uma maior quantidade de pessoas, mas já seria um público diferente da nossa amostra, que continha apenas atletas com elevada frequência de treino e que participavam com frequência de competições em nível regional e nacional”, justifica o pesquisador, que é mestre em Educação Física na subárea de Movimento Humano, Saúde e Desempenho.

“Ainda assim, nós fizemos a avaliação cruzada, isto é, o atleta foi controle dele mesmo. Dessa forma, usamos, na verdade, 20 unidades para análise, sendo 10 para cada condição. E apesar do tamanho da amostra, a variação com e sem máscara foi muito pequena, de apenas 0,2%”, acrescenta.
Dantas também acredita que aumentar o número de voluntários da pesquisa iria interferir no treinamento de atletas que se preparavam para competições internacionais, como a Olimpíada, sem evidências de que os achados seriam diferentes.

“Preocupações que ainda temos não são em relação ao tamanho amostral, mas a outras configurações de treinamentos, como períodos de recuperação mais curtos entre estímulos, estímulos físicos mais longos e maior volume de treino. Entretanto, também temos que pensar que caminhamos para o fim da pandemia e que o desenvolvimento de um novo estudo, a partir de agora, vai ser divulgado próximo do período em que as máscaras deixarão de ser obrigatórias, e esperamos que com boa parte da população vacinada”, pondera.

Agora, os mesmos pesquisadores investigam os efeitos do uso de máscara nas respostas metabólicas e na fadiga durante teste ergométrico de intensidade moderada. O grupo, que é coordenado pelo professor da FMUSP Bruno Gualano, aplica a prova de esteira em crianças, adolescentes e adultos não atletas.

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