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Estudo avalia prognóstico de Covid-19 em jogadores do futebol brasileiro

Um grupo de pesquisadores de diferentes instituições do Estado de São Paulo investiga a resposta imune e o prognóstico de Covid-19 em jogadores de futebol profissionais. Participam do estudo especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), do Hospital Israelita Albert Einstein, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Núcleo de Alto Rendimento Esportivo de São Paulo (NAR-SP). A Federação Paulista de Futebol (FPF) apoia o trabalho.
A pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) parou as competições do esporte mais popular do país por um período de 90 a 120 dias, em média, a partir de março, quando ainda eram disputados os campeonatos estaduais. O Carioca foi o primeiro a voltar, em junho, após três meses de paralisação. A maioria dos demais Estaduais retornou em julho, e o Brasileiro, normalmente iniciado em abril, começou em agosto.
Desde então, vários atletas se infectaram pelo Sars-Cov-2. Logo na abertura do Campeonato Brasileiro, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) adiou a partida entre Goiás e São Paulo. A suspensão fora pedida pelo clube goiano, horas antes do jogo, após a confirmação de que 10 dos 23 jogadores concentrados para o confronto haviam testado positivo.
Já o Flamengo não conseguiu transferir a partida contra o Palmeiras, em setembro, ainda pelo primeiro turno da competição. Na época, o clube carioca vivia um surto de Covid-19, com mais de 40 casos confirmados entre atletas, membros da comissão técnica e diretores.

Maioria dos casos em atletas é leve

Depois um período de relativa calma, em novembro, já no segundo turno do Campeonato Brasileiro, uma “segunda onda” de Covid-19 atingiu os clubes da série A. Na 22ª rodada, disputada entre os dias 20 e 23 daquele mês, 60 jogadores infectados pelo Sars-Cov-2 desfalcaram 12 dos 20 times da competição, de acordo com levantamento do UOL junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Dados da CBF apontavam, ainda, que de 6.604 atletas testados até então nas séries A, B, C e D do Brasileiro e nos campeonatos nacionais sub-23 (Aspirantes), sub-20 e sub-17, 1.257 (19%) haviam sido contaminados em algum momento da pandemia.
Entretanto, felizmente, a maioria dos casos evoluiu bem. Embora alguns treinadores, como Cuca, do Santos, tenham necessitado de cuidados mais intensivos, a maior parte dos jogadores – mais jovens e com melhor condicionamento físico – permaneceu assintomática ou apresentou casos leves de Covid-19.

“Pela condição fisiológica desses atletas de alto rendimento, é certo que eles agravam menos”, observa Bruno Gualano, professor da FM-USP que participa do estudo multi-institucional, em entrevista à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Testes cardíacos analisarão possíveis danos

Mas será que todos os jogadores de futebol passam ilesos pela doença? Essa é a resposta que o grupo de Gualano, chamado “coalizão Esporte-Covid-19”, busca na pesquisa.

“Queremos entender as eventuais sequelas da Covid-19 em atletas profissionais. Estudo realizado com 26 atletas universitários nos Estados Unidos mostrou que eles podem apresentar dano cardíaco ou indícios de inflamação no coração. Esses são dados novos, e ainda não sabemos seu real significado para um competidor de alto rendimento”, diz o professor da FM-USP.

Os pesquisadores das cinco instituições paulistas vão acompanhar 75 jogadores que tiveram Covid-19, com ou sem sintomas. Gualano conta que os atletas passarão por uma rigorosa bateria de exames cardiovasculares, que incluem ecocardiograma, teste de esforço, avaliação da função endotelial e ressonância magnética cardíaca. O objetivo é avaliar a possibilidade de danos persistentes.
“É uma doença nova, e não sabemos ainda se há sequelas e quais as repercussões em médio e longo prazo, como, por exemplo, risco elevado de mal súbito. Essa investigação pode ajudar a construir um protocolo de retorno à prática esportiva ‘pós-Covid’ pautado em evidências científicas”, reforça.

Grupo estudado pode servir de parâmetro para a população

Outro aspecto importante do projeto está na possibilidade de levantar indícios sobre o funcionamento da doença para a população em geral. Isso acontece porque o público estudado é formado por atletas jovens, saudáveis, com alimentação regrada e excelente condicionamento físico.

“Em qualquer tipo de pesquisa comparativa, essa população seria uma espécie de grupo controle ideal. Portanto, entender como esses indivíduos respondem à Covid-19 pode também nos dar pistas fisiológicas importantes que podem servir na prevenção de casos mais graves”, explica Gualano.

Ainda de acordo com o professor da FM-USP, a pesquisa tem o potencial de responder até que ponto o estilo de vida interfere nos sintomas e nas sequelas da doença.

Professor do HZM participa de mais duas pesquisas com atletas

Em outra frente, o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia mantém um grupo de reabilitação pós-Covid-19. Médico titular e supervisor do setor de Provas Funcionais e Reabilitação da instituição, além de professor e coordenador acadêmico da pós-graduação em Medicina do Exercício e do Esporte do Instituto HZM, o Dr. Carlos Hossri conta que ele e seus colegas estão coletando dados para estudar os efeitos cardiovasculares e neuromusculares em atletas de diferentes modalidades recuperados da doença.

“Realizei vários testes ergoespirométricos em atletas pós-Covid-19, e é impressionante como aqueles que tiveram maiores manifestações clínicas apresentaram limitação musculoesquelética e cardiorrespiratória mais importantes nessas provas”, comenta o cardiologista.

Dr. Carlos Hossri também é coordenador do Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica e do Serviço de Ergometria e Ergoespirometria do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo. Lá, participa de outro projeto de avaliação pós-Covid-19 em atletas, voltado à reabilitação neuromuscular e cardiorrespiratória.

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