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Ganhos do exercício podem ser transferidos pelo sangue, indica estudo

Os benefícios da atividade física já são bem conhecidos. Quem se exercita tem melhora na qualidade de vida e reduz as chances de perder a memória.
Mas um estudo americano publicado em julho na revista Science foi além. Os pesquisadores, da Universidade da Califórnia e de outras instituições da cidade de São Francisco, investigaram os fatores responsáveis pela manutenção ou melhora da capacidade cognitiva relacionados ao exercício.
Em uma entrevista ao Jornal da USP sobre o estudo, a bióloga molecular e geneticista Mayana Zatz lembra que pesquisas anteriores em camundongos já haviam demonstrado a eficácia do exercício na reversão do envelhecimento cerebral.
“Para muitos idosos, manter a atividade física pode ser difícil, devido à fragilidade ou à presença de comorbidades”, comenta Dra. Zatz, que também é professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

“O objetivo dos pesquisadores, neste estudo, era investigar quais são os fatores responsáveis pela manutenção ou até melhora da capacidade cognitiva como consequência da atividade física, e se esse benefício poderia ser obtido mesmo sem se exercitar”, acrescenta.

Também já se sabia, prossegue Dra. Zatz, que, em camundongos, o exercício físico reverte o declínio cognitivo associado ao hipocampo – região do cérebro responsável pelos efeitos deletérios do envelhecimento.
Além disso, pesquisas anteriores demonstraram que a transferência de sangue ou plasma sanguíneo de camundongos jovens para idosos melhora a neurogênese – capacidade de regeneração dos neurônios – e a cognição nos animais mais velhos.

Atividade física melhora aprendizado e memória de cobaias

Os cientistas americanos começaram o estudo caracterizando o efeito direto do exercício em camundongos idosos, com 18 meses de idade, em comparação com animais jovens, de 3 meses. A atividade foi realizada em uma roda de corrida durante seis semanas.
Depois, os pesquisadores compararam um grupo de camundongos idosos e ativos fisicamente com um grupo-controle, no qual os animais também tinham 18 meses e eram sedentários. Verificou-se que, nos animais que se exercitaram, houve aumento da neurogênese e da expressão de fatores neurotróficos cerebrais (em inglês, brain-derived neurotrophic factors – BDNF), proteínas responsáveis por regular a sobrevivência dos neurônios e a plasticidade das sinapses.

“O resultado foi uma melhora na capacidade de aprendizado e memória associada à região do hipocampo. Ou seja, com essa pesquisa, eles observaram que o benefício estava diretamente ligado ao exercício, e não à idade do animal”, conta Dra. Zatz.

Em seguida, para descobrir se esse efeito era mediado por fatores liberados na corrente sanguínea, os pesquisadores passaram o plasma dos animais ativos fisicamente para os sedentários. Com esse procedimento, eles confirmaram que os benefícios do exercício podiam ser transferidos pelo sangue.
O passo seguinte foi identificar, no sangue, os fatores responsáveis pelo resgate cognitivo.
“Essa é a parte mais interessante: a pesquisa mostrou que, após o exercício, havia um aumento de várias enzimas liberadas pelo fígado e que eram responsáveis pela melhora da função cognitiva. Uma das enzimas, uma fosfolipase denominada GPLD1, já se mostrou aumentada em pessoas idosas ativas e saudáveis, o que demonstra que esses achados podem ser verdadeiros também para nós, humanos”, celebra a professora da USP.
Para Dra. Zatz, os resultados da pesquisa representam “uma excelente notícia” para quem não pode ou não gosta de se exercitar.

“Todos nós queremos envelhecer sem perder a capacidade cognitiva. É o que em inglês se chama de health extend, ou seja, estender a vida com saúde física e mental”, pontua.

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