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Atividade física reduz efeitos da Covid-19 no organismo?

Pesquisadores de diferentes instituições brasileiras conduzem um estudo on-line com o objetivo de avaliar se pessoas fisicamente ativas podem apresentar maior proteção contra a Covid-19 e melhor recuperação após uma infecção. A primeira etapa, em andamento, consiste de um questionário a ser respondido voluntariamente por quem contraiu a doença e já se recuperou.
Podem participar do estudo homens e mulheres de todas as idades e que tiveram confirmação de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) por RT-PCR (coleta nasal ou pela garganta) ou exame de sangue (teste rápido). A intenção é comparar os dados de indivíduos fisicamente ativos e sedentários.
As questões abordam as consequências da doença no organismo do enfermo. Os especialistas vão avaliar as respostas para traçar um panorama dos desfechos relativos ao número de hospitalizações e aos sintomas da doença manifestados em cada grupo.
A intenção, segundo o texto de apresentação do questionário, é “entender melhor o papel da atividade física e do exercício físico na proteção contra doenças virais” e “poder colaborar com as políticas públicas de saúde em relação aos hábitos saudáveis de um estilo de vida mais ativo”.
De acordo com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que conta com dois pesquisadores no estudo, resultados positivos nos desfechos clínicos da pesquisa podem, ainda, melhorar a qualidade de vida dos pacientes e gerar menor impacto sobre os sistemas público e privado de saúde.

Sintomas seriam mais brandos em indivíduos fisicamente ativos

Mesmo com o levantamento em fase inicial, os autores veem indícios de que pessoas ativas fisicamente apresentem sintomas mais leves de Covid-19 e não necessitem tanto de internação quanto as sedentárias. É o que afirma a pesquisadora Daisy Motta Santos, residente de pós-doutorado no Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (EEFFTO/UFMG).

“A gente acredita que o indivíduo ativo tenha o sistema imune preparado para responder à inflamação gerada pela doença e que tenha uma resposta [aos sintomas] mais atenuada”, comenta Santos, em entrevista à Rádio UFMG Educativa.

A pesquisadora lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de pelo menos 150 minutos de atividade física por semana.
“Indivíduos que não atingem esses níveis podem ser considerados sedentários. Vários estudos sugerem que a inatividade física está associada a mais de 30 doenças crônicas, que poderiam ser prevenidas com a alteração do estilo de vida”, ressalta.
O estudo é intitulado O Impacto do Exercício Físico, da Atividade Física e do Sedentarismo nos Desfechos Clínicos em Pacientes Sobreviventes Infectados pelo Vírus SARS-CoV-2 (Coronavírus). Além da UFRGS e da UFMG, participam pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCFMUSP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Marcelo Rodrigues dos Santos, do InCor, coordena os trabalhos.

“Fique em casa, mas não fique parado”, pedem pesquisadores

Outro estudo da FMUSP avalia o impacto da inatividade física sobre a saúde durante o período de isolamento social. Segundo os pesquisadores, o sedentarismo provocado pela quarentena pode contribuir para a deterioração da saúde cardiovascular, ainda que em curtos períodos de tempo.
Para os autores do estudo, que foi publicado em maio no American Journal of Physiology como um artigo de revisão, o apelo de governantes e profissionais de saúde para que as pessoas fiquem em casa é válido na atual conjuntura, mas deveria vir acrescido de uma segunda recomendação: “não fiquem paradas”.

“O uso de academias e centros esportivos ficará limitado nos próximos meses, mesmo após o fim da quarentena. A atividade física realizada no ambiente domiciliar surge como uma alternativa interessante”, sugere o educador físico e doutor em Ciência Tiago Peçanha, primeiro autor do artigo, em entrevista à Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Em um dos experimentos relatados no artigo, voluntários foram induzidos a reduzir de 10 mil para menos de 5 mil o número de passos diários durante uma semana. Ao final, os pesquisadores notaram redução no diâmetro da artéria braquial (principal vaso do braço), perda da elasticidade dos vasos sanguíneos e danos ao endotélio (camada de células epiteliais que recobre o interior das veias e artérias).
Em outro experimento, voluntários foram mantidos sentados por um período de três a seis horas. O tempo de inatividade foi suficiente para promover alterações vasculares e aumento tanto nos marcadores de inflamação quanto no índice glicêmico pós-alimentação.
“Essas primeiras alterações observadas nos estudos são funcionais, ou seja, o coração e os vasos sanguíneos dos voluntários saudáveis passaram a funcionar de forma diferente em resposta à inatividade física. Caso a situação se prolongue, porém, a tendência é que se transformem em alterações estruturais, mais difíceis de reverter”, explica Peçanha.

Riscos maiores para doentes crônicos e idosos

O sedentarismo prolongado tem efeitos ainda mais nocivos em pessoas com doenças cardiovasculares e outras condições crônicas de saúde, como diabetes, hipertensão, obesidade e câncer. Já nos idosos, a inatividade física pode agravar a sarcopenia – perda generalizada de massa muscular – e aumentar o risco de quedas, fraturas e outros traumas físicos.

“Essas populações mais vulneráveis aos efeitos do sedentarismo também integram o grupo de risco da Covid-19 e, portanto, precisarão se resguardar em casa durante os próximos meses. O ideal é que encontrem estratégias para se manterem ativas, seja realizando tarefas domésticas, caminhando até o jardim, subindo escadas, brincando com os filhos ou dançando na sala”, sugere Peçanha.

“As evidências científicas indicam que a prática de exercícios no ambiente domiciliar é segura e eficaz para controlar a pressão, melhorar as taxas lipídicas, a composição corporal, a qualidade de vida e de sono”, acrescenta.
O pesquisador recomenda que os pacientes de maior risco, sobretudo aqueles não habituados à prática de exercícios, tenham a supervisão de profissionais de saúde, ainda que a distância, por meio de câmeras, aplicativos de celular e outros dispositivos eletrônicos.
“Estudos mostram que as pessoas tendem a aderir melhor à atividade física quando se cria um ambiente on-line que favoreça o suporte social e a interação entre os praticantes”, observa.

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