Seta para esquerda voltar para o blog

Rio e São Paulo são as capitais com menor índice de adultos ativos fisicamente

A mais recente Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (MS), aponta dados preocupantes relacionados à saúde de modo geral. Os índices de obesidade, excesso de peso e diabetes tiveram aumentos substanciais em relação à primeira edição do levantamento, em 2006.
Já a taxa de praticantes de atividade física no tempo livre aumentou, mas ainda está longe do ideal, com Rio de Janeiro e São Paulo encabeçando alguns dos piores números.
A Vigitel ouviu 52.395 pessoas maiores de 18 anos, entre fevereiro e dezembro de 2018, em todas as 27 capitais do país.
Segundo a pesquisa, mais da metade dos brasileiros (55%) está acima do peso. O índice de 2018 é 30,8% maior que o de 2006 (42,6%).
Já a taxa de obesos, que se mantinha estável em 18,9% desde 2015, pulou para 19,8% no ano passado, tornando-se a maior em 13 anos. Em relação ao primeiro Vigitel, que apontou 11,8% de obesidade entre a população, o crescimento é de assustadores 67,8%.

“Nós temos um aumento maior da obesidade em decorrência do consumo muito elevado de alimentos ultraprocessados, de alto teor de gordura e açúcar”, explicou, à Agência Brasil, o secretário de Vigilância em Saúde do MS, Wanderson Oliveira.

Outro número que apresentou crescimento vertiginoso no período foi o de adultos diabéticos: 40%, passando de 5,5%, em 2006, para 7,7%, em 2018.

Crescimento insuficiente

Por sua vez, o número de adultos que declaram praticar atividade física no tempo livre (pelo menos 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana) mais que dobrou no período: de 16,05%, em 2006, saltou para 38,1%, em 2018. A frequência é maior entre homens (45,4%, contra 31,8% das mulheres), tende a diminuir com a idade e aumenta fortemente com o nível de escolaridade.

“É uma melhora importante da prática de atividade física entre os brasileiros na última década, mas ainda deixa a desejar. Mais de 60% da população brasileira não pratica exercícios nas doses preconizadas pela Organização Mundial da Saúde”, lamenta o médico do esporte e cardiologista André Nunes, professor da Pós-Graduação em Medicina do Exercício e do Esporte do Instituto HZM.

Outro docente do curso, o educador físico Gabriel Vieira concorda que os números poderiam ser melhores. Mas prefere ver o copo meio cheio:

“Eu acompanho esses dados e vejo os números aumentando ano a ano. Isso precisa ser correlacionado com o momento que vivemos quanto à prática de atividade física. Há anos ou décadas, as pessoas faziam exercícios como hobby. Era algo apenas para quem gostava ou tinha uma vivência esportiva. Hoje, vivemos uma fase de transição, em que as pessoas fazem atividade física porque começam a perceber a necessidade da prática regular na prevenção de doenças, para a qualidade de vida e a saúde”, afirma.

Apesar do otimismo de Vieira, o lado “meio vazio do copo” é corroborado por outros dados da Vigitel. A pesquisa também aponta que 44,1% dos entrevistados não praticam o mínimo de 150 minutos de atividade física por semana, seja no tempo livre, no deslocamento para o trabalho ou a escola ou durante a atividade ocupacional. Mais da metade das mulheres (51,7%) se enquadra nesse perfil, enquanto entre os homens o índice é de 35,1%.
Ao mesmo tempo, 13,7% da população é considerada pelo Ministério da Saúde fisicamente inativa – 14,2% de mulheres e 13% de homens. Essas pessoas declararam não ter praticado nenhuma atividade física no tempo livre nos três meses anteriores à pesquisa. Também não realizaram esforços físicos relevantes na atividade ocupacional, não se deslocaram para o trabalho ou para a escola a pé ou de bicicleta (perfazendo um mínimo de 10 minutos por trajeto ou 20 minutos por dia) e não fizeram limpeza pesada de suas casas.
A Vigitel revela ainda que 63,3% dos brasileiros gastam três horas ou mais por dia do seu tempo livre vendo televisão ou usando computador, tablet ou celular. Aqui, os homens estão à frente, com 65%, contra 61,9% das mulheres.

Protagonismo indesejado

São Paulo e Rio de Janeiro lideram os números negativos. As duas cidades têm os menores índices de adultos que praticam pelo menos 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana: 31% e 34,8%, respectivamente. De modo semelhante, estão entre as seis capitais com maiores taxas de prática insuficiente.
Entre os inativos, as cidades estão na média (São Paulo) ou acima (Rio de Janeiro). A capital fluminense é ainda campeã no tempo gasto com aparelhos eletrônicos.
Os cariocas, por outro lado, são aqueles que mais praticam atividade física no deslocamento para o trabalho ou a escola. Na cidade, 17,7% das pessoas têm esse hábito, que também é mais comum entre os paulistas (17,1%).
Entretanto, a média, de 14,4% (15% de homens e 13,8% de mulheres), também pode ser considerada baixa.

Paradoxo estendido na areia

Em 2017, pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, a despeito das cenas de vida saudável presenciadas na orla da capital, o estado do Rio de Janeiro era aquele com menor número de praticantes de esportes no Brasil. De acordo com o levantamento, apenas 18% da população fluminense se dedicava a atividades esportivas nos momentos de lazer. Em São Paulo, o índice era de 23%, e no Amazonas, primeiro colocado da lista, de 32%.
Para a pesquisadora do IBGE Adriana Araújo Beringuy, esse fenômeno pode ser explicado, em grande parte, pelo tempo perdido no trajeto casa-trabalho.
“O ‘Rio cidade praiana’ é a Zona Sul da cidade. Mas é importante lembrar que a grande massa mora na Região Metropolitana, fora da faixa da Zona Sul, e só o deslocamento dessas pessoas entre a casa e o trabalho já consome parte importante do tempo que elas teriam livre para praticar alguma atividade”, ressaltou a pesquisadora em entrevista à CBN.
Já o endocrinologista Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, lembrou que os cariocas também apareceram como os mais sedentários em outras pesquisas.
“Esse índice de sedentarismo entre os cariocas contribui muito para a prevalência alta do excesso de peso e da obesidade, quando [o Rio é] comparado com outras capitais brasileiras”, constatou o médico.
“Outro fator que contribui muito é a violência urbana. A pessoa, com medo de sair de casa, acaba ficando ‘presa’ em frente à televisão”, acrescentou.
A pesquisa, comparada à mais recente Vigitel, também mostrou um abismo ainda maior entre gêneros: no Rio, 63% dos esportistas eram do sexo masculino, e 36%, do feminino.

Compartilhar:

© HZM 2023