Não apenas exercícios aeróbicos, como corrida ou natação, mas também o treino de resistência, a exemplo da musculação, atuam no controle glicêmico, beneficiando o paciente com diabetes. Essa é a conclusão de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), São Paulo, em estudo publicado no International Journal of Molecular Sciences.
Na investigação, os cientistas trataram células beta do pâncreas – responsáveis por secretar insulina – com o soro sanguíneo de ratos que praticaram treinamento de força. O exercício consistia em subir uma escada de cerca de um metro de altura com carga acoplada à cauda.
Os ratos fizeram oito escaladas por seção, variando entre 50%, 75%, 90% e 100% de carga máxima, cinco dias por semana, durante dez semanas. Em seguida, as células beta foram submetidas, in vitro, a um coquetel de citocinas pró-inflamatórias. O objetivo era induzir uma condição semelhante à do diabetes tipo 1.
Os primeiros resultados indicaram que o tratamento preveniu não só a disfunção, como também a morte celular.
Benefícios do exercício de força
A etapa seguinte foi trabalhar com um modelo animal de diabetes tipo 1. A fim de induzir a doença em camundongos, os pesquisadores administraram nos roedores doses baixas de estreptozotocina, droga que destrói especificamente as células beta.
Após dez semanas de treinamento resistido, os animais apresentaram melhora na tolerância à glicose, bem como redução da glicemia. Os cientistas ainda avaliaram a morfologia do pâncreas e observaram aumento na massa de células beta.
Essa constatação, de acordo com os pesquisadores, mostra que o exercício de força torna as células mais eficientes em secretar insulina como resposta ao estímulo de glicose.
“Isso nos leva a acreditar que moléculas liberadas durante o exercício resistido podem melhorar o funcionamento da célula beta e proporcionar todos esses benefícios”, comenta Gabriela Alves Bronczek, primeira autora do estudo, em entrevista à Agência Fapesp.
Treino resistido leva tratamento a mais pessoas
Antonio Carlos Boschiero, professor titular da Unicamp, destaca a importância da atividade física diante do que chama de “pandemia de obesidade no mundo” e da piora nos hábitos alimentares da população. Nesse sentido, o estudo da universidade amplia as possibilidades de tratamento.
“Entender os benefícios do exercício resistido abre ainda mais portas, já que ele pode ser feito, por exemplo, a partir de uma cadeira de rodas”, observa o professor, que é orientador de Bronczek na pesquisa.
O próximo passo da cientista é estudar o soro sanguíneo dos animais, a fim de identificar moléculas que possam ser realmente as responsáveis por mediar todos os efeitos benéficos que ela observou. Esse seria o primeiro passo na busca de um potencial alvo terapêutico, acredita Bronczek, já que as moléculas encontradas poderiam ser sintetizadas ou isoladas e utilizadas em pacientes com diabetes tipo 1.
Outro desdobramento, ela acrescenta, seria a recomendação mais embasada de musculação como forma de contribuir para a manutenção glicêmica de pacientes com diabetes.
“Isso porque passaremos a entender melhor como esse tipo de atividade funciona, sua fisiologia e como ela impacta na homeostase glicêmica”, explica a pesquisadora.
Diabetes, obesidade e musculação são tema de novo curso
O estudo do diabetes e da obesidade é o carro-chefe da pós-graduação em Endocrinologia do Esporte, mais nova especialização para médicos do Instituto HZM. A afirmação é do Dr. Ricardo Oliveira, referência em Endocrinologia Esportiva e um dos professores do curso, que está previsto para iniciar em maio.
“Em ambos os casos, o exercício físico tem um papel muito importante como ferramenta terapêutica, ou seja, ele faz parte do tratamento. Então, o médico que trata o indivíduo com obesidade ou diabetes precisa ter um conhecimento básico de Medicina do Esporte e de Endocrinologia do Exercício para que saiba recorrer a essa ferramenta e utilizá-la da melhor forma com seus pacientes”, afirma o médico, em entrevista ao blog.
A pós-graduação lato sensu em Endocrinologia do Esporte do Instituto HZM aborda os conceitos básicos da fisiologia do pâncreas e da insulina, a crescente incidência e prevalência de diabetes, sua associação com os outros componentes da síndrome metabólica e a importância das mais diferentes modalidades de exercício e esporte, como a musculação, entre muitos outros assuntos. São 400 horas/aula em um curso 100% online.
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