No terceiro e último post da nossa série sobre os conceitos básicos da Medicina Esportiva para o médico em busca das primeiras informações, mostramos quais são, entre as 55 especialidades médicas, aquelas mais afins ao campo do exercício e do esporte. Além disso, você conhecerá os segundos títulos mais buscados pelo médico do esporte. Por fim, saberá quais são os outros profissionais da área da saúde que atuam ao lado do especialista em Medicina Esportiva numa equipe multidisciplinar.
Conforme visto no primeiro artigo desta série, a Medicina Esportiva é uma especialidade médica ampla, com nove subáreas de atuação. O médico do esporte, portanto, conta com um vasto campo de trabalho, tendo como potenciais pacientes indivíduos de todas as idades.
Isso inclui não apenas quem já é ativo fisicamente, como também aquelas pessoas que pretendem iniciar um programa de exercícios para cuidar da saúde ou que necessitam praticar atividade física como parte de algum tratamento. Além disso, o médico do esporte faz o acompanhamento da saúde e do treinamento de atletas, sejam eles profissionais ou amadores.
Essa abrangência da Medicina Esportiva faz com que muitos profissionais da área tenham um segundo ou até terceiro título de especialista. Para se ter uma ideia, a Demografia Médica 2020 – documento do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Universidade de São Paulo (USP) que faz um raio‑X da profissão no Brasil – estima que o país tenha 898 especialistas em Medicina Esportiva. Esses médicos, no entanto, somam 942 outros títulos.
Lista de especialidades médicas no Brasil
Antes de prosseguirmos, vale citar a lista completa de especialidades médicas no Brasil. De acordo com a Resolução CFM 2.330/2023, o país possui 55 especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). A saber:
- Acupuntura
- Alergia e Imunologia
- Anestesiologia
- Angiologia
- Cardiologia
- Cirurgia Cardiovascular
- Cirurgia da Mão
- Cirurgia de Cabeça e Pescoço
- Cirurgia do Aparelho Digestivo
- Cirurgia Geral
- Cirurgia Oncológica
- Cirurgia Pediátrica
- Cirurgia Plástica
- Cirurgia Torácica
- Cirurgia Vascular
- Clínica Médica
- Coloproctologia
- Dermatologia
- Endocrinologia e Metabologia
- Endoscopia
- Gastroenterologia
- Genética Médica
- Geriatria
- Ginecologia e Obstetrícia
- Hematologia e Hemoterapia
- Homeopatia
- Infectologia
- Mastologia
- Medicina de Emergência
- Medicina de Família e Comunidade
- Medicina do Trabalho
- Medicina do Tráfego
- Medicina Esportiva
- Medicina Física e Reabilitação
- Medicina Intensiva
- Medicina Legal e Perícia Médica
- Medicina Nuclear
- Medicina Preventiva e Social
- Nefrologia
- Neurocirurgia
- Neurologia
- Nutrologia
- Oftalmologia
- Oncologia Clínica
- Ortopedia e Traumatologia
- Otorrinolaringologia
- Patologia
- Patologia Clínica/Medicina Laboratorial
- Pediatria
- Pneumologia
- Psiquiatria
- Radiologia e Diagnóstico por Imagem
- Radioterapia
- Reumatologia
- Urologia
Afinidade com Ortopedia e Traumatologia
No ranking dos títulos mais procurados pelos médicos do esporte brasileiros, o de especialista em Ortopedia e Traumatologia, sem dúvida, é o campeão absoluto, com 29,7% da preferência (280 títulos). A afinidade entre as duas áreas é tão grande que a Sociedade Americana de Medicina Esportiva (AMSSM, na sigla em inglês) lançou uma publicação na qual explica aos pacientes a diferença entre o médico do esporte e o cirurgião ortopedista.
O texto destaca que ambos os profissionais são bem treinados em Medicina musculoesquelética, mas o primeiro tem atuação clínica. Ou seja, o médico do esporte não realiza cirurgias.
“O médico do esporte pode maximizar o tratamento não cirúrgico, orientar encaminhamentos apropriados para terapias físicas e ocupacionais e, se necessário, agilizar o encaminhamento a um cirurgião ortopédico ou esportivo”, complementa a publicação da AMSSM.
A vice-liderança do ranking de especialidades médicas é da Cardiologia, com 10,9% de predileção dos médicos do esporte (103 títulos). A forte compatibilidade entre as duas áreas é bem ilustrada pela trajetória do Dr. Carlos Hossri, professor e coordenador científico da pós-graduação em Medicina do Exercício e do Esporte do Instituto HZM.
Para ele, que é cardiologista do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, e atuou com atletas brasileiros que disputaram os Jogos Pan‑Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, a titulação em Medicina Esportiva foi uma consequência natural na carreira.
“É muito forte, de fato, a relação da Medicina Esportiva com a Cardiologia. Afinal, sem um funcionamento adequado do coração e de todo sistema cardiovascular, a atividade esportiva fica comprometida”, comenta o médico.
Medicina Esportiva e outras especialidades médicas
Completam o Top 5 dos títulos mais procurados pelo médico do esporte, de acordo com a Demografia Médica 2020:
- Medicina do Trabalho: 10,6% (100 títulos);
- Clínica Médica: 8,7% (82 títulos);
- Anestesiologia: 4,7% (45 títulos).
Outras duas especialidades médicas próximas à Medicina Esportiva são a Nutrologia e a Endocrinologia e Metabologia. Tanto que, além do curso de Medicina do Exercício e do Esporte, o Instituto HZM oferece as pós-graduações em Nutrologia Esportiva e Endocrinologia do Esporte.
No entanto, vale frisar que, independentemente de um segundo título, o médico do esporte pode atuar ao lado de profissionais das especialidades citadas, e também de outras, em equipes multidisciplinares.
Medicina Esportiva e outras profissões
Fora das especialidades médicas, o grupo de profissionais de saúde que acompanham o paciente ou o atleta inclui nutricionista, psicólogo, preparador físico e fisioterapeuta, assim como outros. Em estudo publicado no periódico The Sports Medicine Physician, Francesco Della Villa, Stefano Della Villa e João Espregueira Mendes definem assim a importância desse trabalho conjunto:
“Os cuidados de Medicina Esportiva, quer em ambiente de time de esporte, quer em ambiente de reabilitação, devem sempre se basear num esforço de equipe.”
Patrícia Campos-Ferraz, nutricionista e professora convidada das pós-graduações do Instituto HZM, concorda:
“Nossa chance de êxito é maior quando temos um grupo multidisciplinar, uma equipe realmente coesa, com pessoas que preferencialmente estejam no mesmo serviço.”
Já o fisioterapeuta ortopédico e esportivo Marco Tulio Saldanha, também professor convidado das pós-graduações do Instituto HZM, ressalta o bom relacionamento entre profissionais de Fisioterapia e Medicina em clubes e outras instituições que lidam com esporte:
“Essa relação já foi mais tempestuosa ou dissonante. Atualmente, existe um respeito e uma equiparação maiores.”